21/12/2016

Fecham-se as cortinas do Circo Garcia

O Circo Garcia, o quarto maior do mundo e o mais famoso do Brasil fechou as portas depois de 74 anos de sucesso. Além do desemprego para os artistas, a crise gerou outro drama: o que fazer com os animais? Quem cuida deles e quem paga o custo da alimentação?

No local onde ficava o picadeiro, os chimpanzés fizeram a última exibição. Lonas, mastros, cadeiras, nada mais fora usado. A trupe não conseguiu esconder as lágrimas.
Foram 74 anos de espetáculos no Brasil e no exterior. O Circo Garcia chegou a ser considerado o quarto maior circo do mundo. Com dívidas que chegaram a quase um milhão de reais, não havia mais mágicas nem malabarismos que os donos poderiam fazer.

Vender os animais foi uma dura saída para o Garcia tentar saldar as dívidas. Segundo a proprietária, os tigres valiam R$ 20 mil cada. As elefantas que foram compradas durante uma turnê na Tailândia valiam R$ 300 mil.
As cortinas do espetáculo se fecharam. Para sempre. Atolado em dívidas que chegaram à casa dos R$ 800 mil, o Circo Garcia, o mais antigo do Brasil, encerrou as suas atividades. Fundada em Campinas, em 1928, a companhia circense chegou a figurar, na década de 70, entre as quatro maiores do mundo.

A alta do dólar tornou inviável o pagamento de artistas internacionais, com remunerações atreladas à moeda norte-americana. O Garcia chegou a pagar US$ 2,7 mil por semana a trapezistas mexicanos. 

Além disso, diversas leis passaram a proibir a presença de animais no picadeiro. E, para o Garcia, não existem espetáculos sem animais. Era um dos únicos circos do mundo onde era realizada a procriação deles.
Seu fundador foi Antolim Garcia, paulistano, filho de imigrantes espanhóis, que conduziu o Circo Garcia ao sucesso no Exterior. O apogeu aconteceu entre 1954 e 1964, quando os espetáculos, com cinco lonas e cerca de 200 artistas contratados, viajaram por 72 países do mundo. 

Desde a década de 80, o Garcia enfrentou crises financeiras sucessivas. A arte circense já encarava a concorrência da televisão, que passou a oferecer diversão sem que as pessoas precisassem sair de casa. Muitas lonas foram baixadas, no Brasil inteiro. Mas a instabilidade econômica atual foi decisiva.  

"Em 22 de abril fariam 50 anos que eu estou no circo. Se eu pudesse viver dez vidas, viveria dez outras vezes em circo, que é a melhor vida do mundo” – disse a proprietária Carola Boets.  

Não foi só para o Circo Garcia que os ventos mudaram. Segundo o Ministério da Cultura, dos dois mil circos em atividade no país nos anos 80 restaram apenas 300 na época.

Mas alguns acontecimentos marcaram, de maneira particular, a derrocada do Garcia. Antolim morreu em 1987. Desde aquele ano, o grupo era administrado por sua mulher, Carola Boets, e pelo filho dele, Rolando Garcia, que faleceu em 2002.  

Foi por meio de uma proposta de trabalho que Carola Boets, uma belga criada na Suécia, veio com a família para o Brasil no início da década de 1950. Para apresentar o número musical "Ascandales", ela assinou contrato por apenas um ano, mas acabou se apaixonando pelo dono do circo, com quem se casou em 1953, e nunca mais foi embora. 
Agora Carola passa os dias olhando velhas fotografias e álbuns montados com recortes de jornais estrangeiros. São reportagens elogiosas ao circo. E, ao lado das pastas, fica o cinzeiro, lotado de bitucas de Carlton, que ela fuma sem parar.
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